Olhos castanhos
A
música iniciou e eu adentrei a sala, um baile de máscaras, vitoriano, algo tão
clichê para tal situação. Mas, a festa era de minha irmã, não seria eu que
reclamaria de tal fato.
Era
a festa de 15 anos de minha irmã Amélia, e eu como uma boa irmã mais velha me
mantive firma e forte dentro de um corselet que praticamente sufocavam meus órgãos,
mas, sempre sorrindo.
Minha
mãe, estava junto de Amélia tirando algumas fotos próximo a mesa do bolo. Seus
cabelos castanhos encaracolados estavam semi-presos, deixando boa parte deles
caídos por suas costas. Seu vestido amarelo tinha leves pontos dourados que de
encontro com a luz a deixavam especial e ela com uma máscara dourada, discreta
se destacava entre todas, por se parecer muito com o Sol.
Méli
tinha feito questão que já que se parecera muito com o Sol, queria que eu fosse
a Lua. Meus cabelos estavam soltos apenas com uma trança que se transformara em
uma tiara que tinha pequenos cristais que pareciam estrelas e meu vestido azul
marinho com detalhes prateados que desenhavam arabescos da barra até minha
cintura.
As
danças ensaiadas milhares diversas vezes se iniciaram, por sorte minha irmã
sabendo da existência de dois pés esquerdos em mim, me poupou deste desastre,
que seria danças em público.
Todos
se mantinham em pé deixando ao centro quinze casais dançando uma das milhares
de coreografias já ensaiadas. Minha irmã ao meio, dançava com um jovem loiro
pouco mais alto que ela com uma máscara rústica, era Pierre seu namorado que
também aceitara a função de príncipe na ocasião. Ela sorria como nunca, olhando
no fundo dos olhos do garoto. E ele sorria de volta o que parecia a
reconfortar.
A
música deixa de ser um clássico renascentista e passa a ser apenas uma valsa
comum. Sinto uma mão em meu ombro, o que me faz dar um pequeno pulo para
frente, como se isso pudesse me salvar de algo.
Me
viro e meus olhos vão de encontro a um jovem mais alto que eu vestido com um
terno preto e uma rosa vermelha em seu bolso de lapela, sua máscara era prateada,
o que realçava seus olhos castanhos penetrantes. Ele fez uma pequena
reverencia, estendeu a mão direita e olhou em direção ao meu rosto.
-
Me daria a honra desta dança? – Sua voz doce e acalentadora tocou meus ouvidos
de uma forma majestoso. Respondi à pergunta assentindo.
Ele
repousou sua mão na minha cintura e passou a guiar-me pelo salão. Peguei minha
irmã me encarando e sorrindo.
-
O que uma jovem tão bonita, faz sozinha em uma festa dessa? – Cada passo seu
tinha uma constante determinação.
-
Muitas pessoas, mentes vazias – Ele riu, o que fora uma coisa intrigante,
poucos entendiam meus pensamentos conturbados.
-
O que seriam mentes vazias para a senhorita? – Suas palavras foram
meticulosamente escolhidas.
Acabei
por explicar meus delírios e pela primeira vez parecia que alguém realmente se
importava com as palavras que saiam de minha boca, mesmo que parecesse apenas
uma loucura.
A
valsa logo acabou dando lugar a uma música bem mais lenta, suas duas mãos agora
seguravam minha cintura de uma maneira firme, mas delicada, enquanto meus
braços repousavam em volta de seu pescoço.
Ele
me perguntava sobre meus sonhos, filmes, músicas e tudo o mais, conversávamos
sobre tudo. E por incrível que pareça era tão fácil falar com ele, sobre tudo....
Por mais que nos conhecêssemos a pouquíssimo tempo, as palavras deslizavam por
meus lábios com uma facilidade exorbitante.
Uma
música animada começara, e ficara um tanto complicado conversar entre tantos
sons. Peguei sua mão e o guiei para a sacada do salão de festas, que tinha o
para peito todo decorado por flores. Haviam lanternas iluminando o lugar, o que
o deixava mais aconchegante. Logo um garçom passou nos oferecendo champanhe,
ele pegou duas taças e me entregou uma.
-
Querendo me embebedar? – Olhei tentando segurar uma risada - Você não sabe nem
se eu tenho 18...
-
Que? – Ele me olhou espantado, logo retirando a taça de minha mão o que me fez
cair na gargalhada.
-
Ainda bem que a resposta é sim- peguei a taça e beberiquei o liquido que havia
dentro dela.
Olhamos
o céu, que estava estrelado, e era possível ver todas as constelações. Ele
apontou para o céu me dizendo o nome dos conjuntos de estrelas.
-
Mas, essa é a minha preferida
-
Qual? – continuava olhando para cima
-Essa
Ele
me puxou para mais perto, me segurando junto de seu corpo, sua mão em meu
pescoço, fez meu corpo amortecer cada célula, eu conseguia sentir os batimentos
de seu coração tão descompassados quanto sua respiração.
Nossos
lábios foram calmamente se aproximando calmamente e deram início a um beijo
calmo, mas diferente, especial, delicado...
Minhas
mãos em seu pescoço o mantinham ali próximo a mim, e não o deixariam ir embora.
Ele me interrompeu, e sorriu, e sorri de volta envergonhada, ele logo se
aproximou novamente.
-
Julieta! – Ouvi uma voz ao longe me chamar – Está na hora!
-
Tenho que ir - digo sem folego
-
Queria não te deixar...
-Então
venha...
-
Não posso
-
Julieta! – Gritam meu nome novamente
-
Tenho que ir – beijo novamente seus lábios quentes
E
me adentro na multidão deixando para trás o garoto que conseguira roubar meu
coração, olho para onde ele se encontrará e ele permanecia continuava a me
encarar, com uma certa tristeza no olhar.
Ele
vem rapidamente em minha direção e me beija novamente, sorrimos e sou puxada
para dentro daquela aglomeração o perdendo de vista.
Perdendo de vista os meus olhos castanhos
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