Olhos castanhos

agosto 16, 2017

A música iniciou e eu adentrei a sala, um baile de máscaras, vitoriano, algo tão clichê para tal situação. Mas, a festa era de minha irmã, não seria eu que reclamaria de tal fato.
Era a festa de 15 anos de minha irmã Amélia, e eu como uma boa irmã mais velha me mantive firma e forte dentro de um corselet que praticamente sufocavam meus órgãos, mas, sempre sorrindo.
Minha mãe, estava junto de Amélia tirando algumas fotos próximo a mesa do bolo. Seus cabelos castanhos encaracolados estavam semi-presos, deixando boa parte deles caídos por suas costas. Seu vestido amarelo tinha leves pontos dourados que de encontro com a luz a deixavam especial e ela com uma máscara dourada, discreta se destacava entre todas, por se parecer muito com o Sol.
Méli tinha feito questão que já que se parecera muito com o Sol, queria que eu fosse a Lua. Meus cabelos estavam soltos apenas com uma trança que se transformara em uma tiara que tinha pequenos cristais que pareciam estrelas e meu vestido azul marinho com detalhes prateados que desenhavam arabescos da barra até minha cintura.
As danças ensaiadas milhares diversas vezes se iniciaram, por sorte minha irmã sabendo da existência de dois pés esquerdos em mim, me poupou deste desastre, que seria danças em público.
Todos se mantinham em pé deixando ao centro quinze casais dançando uma das milhares de coreografias já ensaiadas. Minha irmã ao meio, dançava com um jovem loiro pouco mais alto que ela com uma máscara rústica, era Pierre seu namorado que também aceitara a função de príncipe na ocasião. Ela sorria como nunca, olhando no fundo dos olhos do garoto. E ele sorria de volta o que parecia a reconfortar.
A música deixa de ser um clássico renascentista e passa a ser apenas uma valsa comum. Sinto uma mão em meu ombro, o que me faz dar um pequeno pulo para frente, como se isso pudesse me salvar de algo.
Me viro e meus olhos vão de encontro a um jovem mais alto que eu vestido com um terno preto e uma rosa vermelha em seu bolso de lapela, sua máscara era prateada, o que realçava seus olhos castanhos penetrantes. Ele fez uma pequena reverencia, estendeu a mão direita e olhou em direção ao meu rosto.
- Me daria a honra desta dança? – Sua voz doce e acalentadora tocou meus ouvidos de uma forma majestoso. Respondi à pergunta assentindo.
Ele repousou sua mão na minha cintura e passou a guiar-me pelo salão. Peguei minha irmã me encarando e sorrindo.
- O que uma jovem tão bonita, faz sozinha em uma festa dessa? – Cada passo seu tinha uma constante determinação.
- Muitas pessoas, mentes vazias – Ele riu, o que fora uma coisa intrigante, poucos entendiam meus pensamentos conturbados.
- O que seriam mentes vazias para a senhorita? – Suas palavras foram meticulosamente escolhidas.
Acabei por explicar meus delírios e pela primeira vez parecia que alguém realmente se importava com as palavras que saiam de minha boca, mesmo que parecesse apenas uma loucura.
A valsa logo acabou dando lugar a uma música bem mais lenta, suas duas mãos agora seguravam minha cintura de uma maneira firme, mas delicada, enquanto meus braços repousavam em volta de seu pescoço.
Ele me perguntava sobre meus sonhos, filmes, músicas e tudo o mais, conversávamos sobre tudo. E por incrível que pareça era tão fácil falar com ele, sobre tudo.... Por mais que nos conhecêssemos a pouquíssimo tempo, as palavras deslizavam por meus lábios com uma facilidade exorbitante.
Uma música animada começara, e ficara um tanto complicado conversar entre tantos sons. Peguei sua mão e o guiei para a sacada do salão de festas, que tinha o para peito todo decorado por flores. Haviam lanternas iluminando o lugar, o que o deixava mais aconchegante. Logo um garçom passou nos oferecendo champanhe, ele pegou duas taças e me entregou uma.
- Querendo me embebedar? – Olhei tentando segurar uma risada - Você não sabe nem se eu tenho 18...
- Que? – Ele me olhou espantado, logo retirando a taça de minha mão o que me fez cair na gargalhada.
- Ainda bem que a resposta é sim- peguei a taça e beberiquei o liquido que havia dentro dela.
Olhamos o céu, que estava estrelado, e era possível ver todas as constelações. Ele apontou para o céu me dizendo o nome dos conjuntos de estrelas.
- Mas, essa é a minha preferida
- Qual? – continuava olhando para cima
-Essa
Ele me puxou para mais perto, me segurando junto de seu corpo, sua mão em meu pescoço, fez meu corpo amortecer cada célula, eu conseguia sentir os batimentos de seu coração tão descompassados quanto sua respiração.
Nossos lábios foram calmamente se aproximando calmamente e deram início a um beijo calmo, mas diferente, especial, delicado...
Minhas mãos em seu pescoço o mantinham ali próximo a mim, e não o deixariam ir embora. Ele me interrompeu, e sorriu, e sorri de volta envergonhada, ele logo se aproximou novamente.
- Julieta! – Ouvi uma voz ao longe me chamar – Está na hora!
- Tenho que ir - digo sem folego
- Queria não te deixar...
-Então venha...
- Não posso
- Julieta! – Gritam meu nome novamente
- Tenho que ir – beijo novamente seus lábios quentes
E me adentro na multidão deixando para trás o garoto que conseguira roubar meu coração, olho para onde ele se encontrará e ele permanecia continuava a me encarar, com uma certa tristeza no olhar.

Ele vem rapidamente em minha direção e me beija novamente, sorrimos e sou puxada para dentro daquela aglomeração o perdendo de vista.
Perdendo de vista os meus olhos castanhos

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